Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2009

Agradecimento de Theka + Conto de Josias (Os dois banhos mornos)

 

 

Bom dia.

 

Hoje sinto-me mais a vontade para agradecer a todos pelo carinho e apoio... pelas palavras amigas vindas de todas as formas e de todos os lugares deste mundo: e-mail, torpedo, mensagens no Orkut, telefone e pessoalmente.

 

Perder alguém que amamos não é nada fácil... é difícil dizer adeus... mas fica em meu coração a paz e serenidade, companheiras maravilhosas, que fornecem a força exacta que preciso para aceitar a única certeza da vida: a morte.

 

O meu avô era um poeta, e descobriu isso aos 70 anos. Muito aprendi de força, perseverança e vontade de viver com todo o contexto de sua vida. Ele foi um leão, um touro e sem sombra de dúvidas viveu até a última gota de vida na esperança de lutar e mais uma vez vencer. Foram muitas as batalhas vencidas, foram muitas as vezes que choramos de tristeza e depois de alegria e surpresa por ele se recuperar tão bem... 1... 2.... 3 vezes... foram muitos os milagres de Jesus que testemunhamos... foram muitos acontecimentos... até que no dia 23 de Janeiro de 2009, aos 77 anos, Josias Macedo Neto, o meu avô a quem eu chamava de pai, descansou de toda a sua jornada. Tive 2 pais, e agora os dois estão a descansar na paz do nosso Senhor Jesus Cristo.

 

O meu muito obrigada a todos.

 

Theka.

 






 

Os dois banhos mornos

 

Viajava no meu carro de Ilhéus a Salvador, sozinho. Beirava às 17h, quando houve um acidente na estrada e fiquei num terrível engarrafamento. Duas horas depois, podendo seguir viagem, resolvi mudar o meu itinerário e peguei o caminho para o Ferry, para ganhar tempo. Já eram mais de 20 h e o Ferry já estava fechado! Naquele tempo, na década de 70, era assim. Actualmente funciona dia e noite. Poderia não ser tão desastroso este acontecimento se não fosse noite de São João, não podendo retornar e pegar a estrada, pois esqueci de reabastecer o veículo. A gasolina só dava para atravessar o mar sem gastar e chegar até a minha casa que ficava no Cabula Teria que pernoitar por lá e esperar a primeira barca às 6h da manhã seguinte. Minha mulher, meus filhos, parentes e amigos estavam me esperando para comemorarmos a data, com muita canjica, bolos e licores, inclusive o de maracujá, o meu preferido. Precisava telefonar e avisar a todos sobre o que estava ocorrendo para não pensarem o pior e não ficarem aflitos. Com ainda não havia chegado o celular, perguntei ao vigia onde poderia encontrar um telefone público.

O daqui está quebrado há duas semanas, moço.

- Não há outro pelas redondezas?

- O mais curto de chegar fica lá pra bandas daquela zoada ali. Lá fica o armazém de Seu Zé e tem um. É um bocado de terra, encara?

- O senhor se refere lá donde está vindo um som de sanfona?

- Dá para ouvir daqui. Siga pelo ouvido e o senhor acerta.

Fechei o carro e pedi para ele tomar conta, o que ele aceitou levantando o cata-piolho num gesto de OK!

Caia uma garoa e fazia muito frio. Embrenhei-me pela mata e quanto mais andava o som da sanfona aumentava e o coração apertava com saudade de minha família. Dava para ver os foguetes estourarem lá longe e os fogos de artifícios dançarem abrindo os braços iluminados. Cheguei ao lugar e parei para apreciar a festa. Muita gente dançando, muitas bandeloras tremendo nos cordões, muitas fogueiras acesas, muitas mesas com muita comida e bebidas típicas da ocasião e um trio nordestino animando tudo com as músicas de Luiz Gonzaga. Quem primeiro me viu foi um menino vestido de caipira com o chapéu de palha que caiu quando ele saiu correndo como se tivesse visto um fantasma. Repentinamente a música parou e um bando veio em minha direção e na frente um velho que deveria ser o Seu Zé empunhando uma enorme espingarda destas antigas da guerra do Paraguai. Não deu outra. Tive que apelar para sair daquela situação e como faz um bandido para que a polícia não o metralhe, levantei meus braços e gritei:

- Calma Seu Zé. Meu carro quebrou e preciso dar um telefonema.

Dei sorte quando alguém saiu em minha defesa. Uma alta cabocla de grandes cabelos em tranças e um chapéu de cangaceiro.

-È meu namorado, Seu Zé. Ele veio passar o São João comigo

Aí se aproximou, meu deu um forte abraço e falou ao meu ouvido.

- Confirme tudo se não você não volta vivo! Chamo-me Carlota. Beije-me e vamos pra festa de braço dado!

Não tive alternativa. Foi um beijo com gosto de quentão que me deixou um pouco zonzo. Aí Seu Zé estendeu a mão para um aperto e disse:

- Seja bem-vindo. Como se chama?

Antes que eu respondesse, a minha "namorada" saiu com esta:

- É Carlos Alberto, apelidado de Carlão.

- Tudo bem pessoal. Vamos voltar pra festa e pedir a São Pedro para que não chova. E quanto a você Carlão pode vir se achegando que eu lhe mostro o aparelho telefônico.

E assim lá fui eu de braços com aquela mulherona que dava eu e a minha metade de altura. Aí ela me alertou:

- Pode demorar de dar ruído. É comum. Por outro lado, quero lhe avisar que tenho mesmo um namorado que se chama Carlão, mora praquelas bandas de Nazaré das Farinhas e ficou de aparecer hoje aqui no sítio do Seu Zé para conhecer minha família e pedir minha mão em casamento. Conheci na feira daqui onde aos sábados ele arma uma barraca e vende galos, galinhas e ovos. Seu Zé é amigo de meu pai que já está pra chegar. Ambos são muito violentos e não desculpam qualquer cabra que aparece sem ser convidado. Acha que é ladrão e atira antes de perguntar o nome. Meu pai é o Delegado e seu Zé é o Sub. Por isto, reze para meu Carlão não chegar tão cedo, para que você se divirta um pouco, pois só amanhã pela manhã encontrará mecânico para reparar seu carro.

- Na verdade, meu carro não quebrou. Apenas encontrei o Ferry fechado e preciso avisar à minha mulher que só chegarei amanhã e por quê! Sou casado, tenho filhos e espero que você compreenda e continue me ajudando.

- Então é melhor tirar esta aliança da mão esquerda e guardar bem guardada.

- Deu ruído. Dá licença?

- Fique à vontade. Vou buscar um licor pra gente

- Alô, alô... É Tê? Sou eu Jô. Você não sabe o que aconteceu. Resolvi pegar o Ferry e encontrei fechado. Agora vou ter que dormir dentro do carro e esperar a primeira embarcação às 6 h da manhã. Desculpe. Guarde a canjica e pamonhas para mim.

-Estava preocupadíssima. Agora que estou ouvindo a sanfona tocando Asa Branca e muita gente cantando e fogos estourando, acho que tem muita gente com você esperando este tal de Ferry, não é?

- Não é nada disto amor...

- Não precisa dizer mais nada. Amanhã se chegar com cheiro de mulher, aqui você não entra.

Bateu o telefone em minha cara. Aí chegou a cabocla com um caneco cheio de licor de jenipapo

- E aí, tudo bem com sua esposa?

- Que nada. Não acreditou em nenhuma palavrinha que eu disse. Pensa que estou na farra

- Se você não é homem de levar fama sem proveito, vou lhe dar a fantasia de Carlão que é de um cangaceiro tipo Lampião para combinar com a minha que é tipo Maria Bonita e vamos pular e cantar até o amanhecer. Depois lhe darei um bom banho morno na bacia, um bom mingau de milho, colocará a sua roupa normal e adeus! Não  pensei duas vezes.  Vesti meu Lampião e fui para o arrasta pé. Como minha companheira era alta, minha cara batia nos peitos dela, enormes, que dava até para servir de travesseiros, se fosse o caso! Lá para uma tantas, alguém apontou de bicicleta na beira da estrada rumo à festança. Aí a Maria Bonita gritou bem nos pés dos ouvidos do Seu Zé:

-Seu Zé... Bota este forasteiro pra correr... Vive me perseguindo para namorar com ele, apesar de saber que sou mulher comprometida.

Aí se ouviu alguns estampidos da espigarda do subdelegado em direção ao visitante que largou a bicicleta no chão e saiu desembestado.

- Pode agora ficar sossegado – disse-me ela, sussurrando – o Carlão não volta, depois de receber umas buchas nos traseiros.

- Você é doida mesmo. E seu pai quando chegar, com vai ser? Melhor eu me esconder, tirar um cochilo, já deve ser mais de meia-noite e depois tomar o tal banho morno que me ofereceu.

-Esta buzina é do velho Chevrolet de meu pai. Vou lhe mostrar um quarto e amanhã cedo eu lhe acordo.

-Assim ela fez. Tomei meu delicioso banho morno, vesti minha roupa e como todo mundo estava dormindo,agradeci com um abraço, quando ela com os olhos lacrimejando, falou:.

- Que pena você ser casado. Como homem casado pra mim é mulher e não gosto de namorar mulher, ficará apenas na lembrança. Boa viagem.

Engulí a emoção que não me deixou dizer alguma coisa. Sorri e dei-lhe um adeus com minha mão direita e tratei de apressar os passos para não perder o horário.

Enquanto a barca rasgava as ondas da Baía de Todos os Santos, lembrava-me da aventura que vivi e da bondade e abundância daquela Maria Bonita. Um dia contarei a verdade a minha mulher e voltaremos lá naquele sítio do Seu Zé para agradecer-lhe a acolhida e tentar descobrir onde mora a Carlota e agradecer mais uma vez tudo que ela fez por mim naquela noite de São João. Se estiver casada com o Carlão não poderei entrar em detalhes, mas valerá a pena vê-la novamente e abraça-la e dizer-lhe no ouvido  como uma boa piada: "... confirme tudo que eu contar na presença de minha mulher, se não você não sairá viva daqui !"

Ao chegar a minha casa a mesa do café já estava pronta, com cuscuz de milho, pamonha e mingaus Minha cara-metade me deu um abraço como que querendo descobri o tal cheiro de mulher e disse-me:

- Ta certo. Ta perdoado. Antes de sentar à mesa, vá tomar um banho morno de balde, pois o chuveiro está quebrado. Vista um pijama. Hoje é feriado. Vá dormir. Deve estar muito cansado.

-Caladinho, aliviado, agradecendo a Deus por ser um homem de sorte, fui tomar o meu segundo banho morno daquela manhã, dia de São João!

 

musica: Sou um poeta, um pintor, um cantor
sinto-me: Serena
publicado por Alzira Macedo às 08:14

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Terça-feira, 27 de Janeiro de 2009

Triste Noticia....

Acabei de saber da morte de Josias Macedo Neto... Com a bela idade de 77 anos...

 

Por respeito à minha querida amiga THEKA, que eu adoro de coração, e por partilhar esta dor, este blog hoje ficará de luto.  Voltarei amanhã se o turvo dos meus olhos permitir.

 

 

Mensagens enviadas pela THEKA :

23 de janeiro - Falecimento do meu avô.
Meu coração está triste com a sua partida, mas feliz por constatar que ele acaba de tornar-se eterno nas palavras.
Um beijo a todos....
em especial na minha queria amiga Alzira! TE AMO!


Meu avô faleceu...
Pegarei todos os seus contos, vou procurar tudo que ele criou e farei uma espécie de álbum literário e gostaria demais de enviar-te, amiga Alzira. Farei 2, um para mim e outro para ti.
Agora meu coração está sangrando ainda pela dor e saudade..
Obrigada por tudo...

Obrigada também a todos que leram seus contos ainda em vida. Eternizarei as palavras do meu avô, que carinhosa, eu chamava de PAI.

 

 

 


Querida Theka tanto eu como nossos amigos blogistas que leram os contos do teu avô sentimos este momento doloroso contigo…
Teu avô viverá eternamente em teu coração e na escrita de seus contos…
Vamos sentir saudades…
Um beijo querida e conta sempre connosco…

sinto-me: Triste
musica: Coração de luto
publicado por Alzira Macedo às 08:17

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Segunda-feira, 26 de Janeiro de 2009

Coincidência ou influência...

 

 

Recebi um poema de um amigo blogista, que por mera coincidência dei comigo a responder…
Ou seria por influência das suas palavras?
Obrigado sonho solitário pelo poema…

 


<<<Influência>>>



Assim chamo a este meu poema
Será tudo parte desta Influência da vida
Porque estarei aqui, será tudo por influência
Será por caridade, será por respeito desta
Amizade virtual,


Porque será esta influência
De um favor
Ou será de uma dor
Deve ser por eu ser marinheiro
E navegar por mundo inteiro
Será por nós estarmos no país das influências?

Dos doutores, Cavalheiros e Madames?
Que vimos um só lado
Porque será julgar!
Será que sabemos o conteúdo de um livro
Antes de o ler, ou conhecer?

Qual será a influência
Desejar um país das sete maravilhas
Mas se nesse pais não se pode lá viver
Ou conviver ou responder,
Qual será a influência!

Será por favor de vossa excelência
Ou será por experiencia,
Talvez mera coincidência,
Seremos aquele país das influências.



Só espero que este meu poema não tenha influência.

 

Sonho solitário

 

 

 

 

 

 

Resposta ao teu poema

 Influência ou coincidência

 

No ponto da partida,
ninguém sabe o que nos espera
influenciados pelos ventos, pelas marés
do querer cada vez mais
poisamos no cais

 Por favor ou não,
em qualquer parte do mundo
palpita o coração
sejas marinheiro, ou apenas escritor
não é por influência que desabafas tua dor

De todos os doutorados
ainda nenhum me convenceu
pois o conteúdo do livro da vida
apenas eu o sei reconhecer
por nele viver

O pais das sete maravilhas
existe apenas nos sonhos
Ou na imaginação
não existe influencia
de se construir uma bela nação

por experiencia
alguém um dia pronunciou
 “ não existem coincidências”
Vivemos no mundo das influencias


                                                                         Alzira Macedo

 

musica: Tu m´as promis
sinto-me: influenciada
publicado por Alzira Macedo às 10:12

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Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2009

A hora do conto

 

Hoje meu poste é bem diferente do Habitual, e vocês vão já ver porquê…

Deixo aqui um conto digno de ser lido por todos, não fui eu que o escrevi não saberia fazer tal…

Mas sim um Senhor que por acaso ou não,  tem o mesmo nome que o meu (Macedo)
Será parente meu? Daí termos a veia apurada para a escrita…
Ainda gostava de saber se temos laços familiares e até irei começar a pesquisar nesse sentido…

Esse Senhor como dizia é avô de minha querida amiga Thecka bem além mar (Brasil) moram eles.
Minha amiga tem uma enorme admiração pelo seu avô, e enviou-me alguns textos dele o que adorei ler e vou publicar, pois admira-me ainda não terem publicado tal maravilha…

Meus parabéns Josias Macedo pelo que escreve pelo que transmite e por esses belos 77 anos é de louvar mesmo…

 

 

 

 

 

 

 


O FORASTEIRO




Por: Josias Macedo Neto


Naquela tarde de dezembro, um homem com chapéu de couro, fumando um cigarrinho
enrolado em fumo cru, sentado no batente de sua casa, vendo o passar de gente
pra lá e pra cá, pois a feira era lá defronte, depois da linha do trem, jamais
poderia imaginar que seria participante de uma das histórias mais estranhas
daquela cidade chamada Esplanada, minha terra natal e que teria o seu final em
Aporá, povoado não muito longe.  Lá, todo mundo se conhecia. Por isto ele tomou
um susto quando um estranho se aproximou e iniciou uma conversa mole com o
linguajar de gente do interior, que era o dialeto do povo, por isto peço
desculpas pelos erros de português. Foi assim que começou o falatório:
- Oi moço, que mal lhe pergunte, vosmicê pode me apontar pra que bandas fica a
casa de seu Gregório, o alfaiate?
- Se está vendo que não é daqui, pois até jegue e cachorro vira-latas sabem.
- Sou forasteiro, vim de muitas léguas atrás, a pé, de carona em carro- de- boi
e até no lombo de uma égua.
- Como caboclo desconfiado, não posso abrir boca pra responder o que quer ouvir,
sem antes saber por que este seu interesse.
- Será que até aqui no interior, também tem a corrupção? Quanto quer para passar
o informe?
- Se está vendo também que o cabra apesar de pouco letrado como eu, ouve muito
as rádios que falam dos deputados que estão enrolados com a tal corrupção que
deve ser uma bandida muito bonita para ter tanta gente graduada atrás dela!
- É assunto particular, de muita urgência, caso de vida ou morte. Diga logo
quanto quer  antes que arrependa, pois não gosto de andar por aí dando dinheiro
a qualquer um só para descobrir uma morada.
- Aí vosmicê me ofendeu. Não sou qualquer. Sou Beribório, o vaqueiro mais famoso
de toda a região. Mudo uma boiada de um sertão em brasa, de fazenda para
fazenda. Todo mundo chega sem carrapato, doença alguma e tudo lizinho e
brilhante que nem parece que tomou tanto sol nas lombadas. Sem faltar nada. Ao
contrário, muitas das vezes até com alguns a mais, os bezerros que nasceram
pelos caminhos.
- Compadre: não estou aqui para ouvir suas aventuras. Vai dizer ou não vai? Caso
não, vou perguntar àquela mulher que está vendendo jacas ali na beira da estrada
perto das linhas da ferrovia. Ta vendo?
- Só se é doido. Sua vida não valerá nem um vintém se chegar perto dela. Pode
botar o seu chapéu cobrindo as ventas para ela não ver a sua cara, pois é
igualzinho ao homem que roubou a filha dela numa noite de tempestade, depois de
passar uma semana na roça aqui perto, nos comes e bebes dos melhores, pensando
ela que ele era interessado em comprar umas terras para plantar mandioca e
fazer uma casa de farinhas, que é a especialidade dela passada de pai pra
filho, desde o seu bisavô.  Já se foram alguns anos e ninguém descobriu até
hoje o paradeiro dos dois. Jurema, este é o nome de batismo dela, porém todo
mundo chama de Jô. Jurou cortar em pedacinhos o dito cujo se algum dia
atravessar em sua frente. Por isto ela só anda com aquele facão amolado
pendurado na cintura Um dia destes foi um Deus nos acuda, quando ela quase
estraçalha um jagunço que viu de costas e pensou se tratar do tal ladrão, que
se chama Pedrão. Só porque um barraqueiro da feira gritou:
- Pedrão! Quanto tempo. Por onde andava?
Quando o homem sentiu a facãozada, virou assustado, mas já era tarde. Agora só
tinha uma orelha. Era sangue pra todo lado e a Jô pedia perdão enquanto o
pessoal acudia e levava a vítima para o ambulatório. Sorte dos dois, pois tinha
um doutor de plantão, coisa rara.
- Ave Maria, estou em apuros. Preciso sair daqui. Por favor, me ensine logo onde
posso encontrar o alfaiate.
- Vai desembuchar ou não vai, sobre esta tão ligeirada procura?
- Ta certo, conto. O caso é que estou com casamenteira prometida com uma morena
muito bonita, mas que tem uma promessa a cumprir. Prometeu ao Padre Cícero que
só casaria com um homem se este estivesse vestido de Lampião. Como existe uma
fama de que o avô de seu Gregório que era alfaiate e costurava as roupas de
Maria Bonita e de seu famoso e destemido companheiro, preciso falar com o seu
neto que herdou a profissão, para ver se ele faz a tal desejada vestimenta.
Fico esperando a feitura nem que tenha de dormir em pé.
- Agora que seu sei qual é o caso, pode entrar. Está falando com o filho do
procurado. Vou fechar portas e janelas por segurança. Meu pai está lá no
quintal torrando farinha para ganhar alguns, pois fazer roupa pra outros está
bem escasso.
- Não posso acreditar! Que sorte danada.
Depois de apresentar o procurador ao achado, todos se sentaram nuns bancos e
começaram a soltar conversa.
Então é o homem que vai salvar meu problema? Prazer em lhe ver! Quanto me vai
cobrar? Vende fiado?
- Vosmicê ler um pouquinho?
- Claro. Cursei quase todo o primário e até me chamam de doutor lá onde moro.
- Então leia aquela placa lá atrás da porta que está virada pra nós.
- "Fiado só a quem tem 80 anos acompanhados da avó"! Na verdade, estava
brincando. Tou cheio da bucha. Vendi duas cabeças de gado e mais algumas cabras
e o que tenho dá pra comprar dez vestimentas. Vim a pé, pedindo ajuda pelo
caminho e com estes trajes de pobre para não atrair os assaltantes.
-A sua sorte além de danada é grande demais. Tenho aí uma roupa de cangaceiro do
seu tamanho e que foi abandonada aqui por um sem vergonha que encomendou e nunca
veio buscar. Arranjei até o chapéu e alguns acompanhamentos e pronto.  Pode
casar.
-Não sei como lhe agradecer. Como a tarde já está caindo e a noite chegando,
posso dormir aqui? Amanhã bem cedinho darei no pé antes que a tal vendedora de
jacas me veja.  Posso?
-Olhe seu menino: ouvi a sua conversa com o meu filho e posso lhe adiantar que
vou salvar a sua pele, pois não acho que seja o que roubou a filha de Jurema,
que por sinal  é também filha  minha com ela. Deve sair daqui assim que enrolar
a roupa, o chapéu e me pagar bem, pois daqui a pouco ela vai entrar por aquela,
desde que, na condição de minha mulher, aqui ela mora. Por ser tão parecido com
o infeliz, ela nem vai pestanejar. Será o seu fim.
-Credo Deus Padre, Nossa Senhora, que situação a minha!
- Calma. Por descarga de consciência vou fazer um teste com voismicê forasteiro,
para não restar alguma dúvida. Tenho duas filhas, as mais chiques que podem
existir, além deste filho que está aí, danado de bom com as boiadas.  Uma dela,
a mais velha, só gostava de namorar soldado de polícia e não queria saber de nos
ajudar a fazer farinha e trabalhar com a mãe na feira. Um dia saiu pra novela de
Santo Antonio e nunca mais voltou Minha pobre Jô não tem mais lágrimas para
botar pra fora. Apesar de ser uma filha mal criada era dela que ela gostava
mais, pois dizia que parecia com a mãe, minha sogra, que Deus tenha em bom
lugar. A outra, a levada por um descarado, era boazinha, ajudava nas costuras e
não fazia cara feia quando a mãe pedia para vender verduras e frutas na feira,
pois temos um sitiozinho que dá de tudo, Vem gente de longe comprar as nossas
jacas.
-Que teste é este, homem de Deus? Estou aflito.
-Aqui está uma fotografia das duas, bem recente, tirada por um lambe-lambe que
apareceu por esta região. Olhe bem: conhece as duas ou alguma das duas?
-Santa Virgem Maria, não é que aqui está toda sorridente a minha Gabe? Juro que
não roubei ela. Apareceu lá em casa numa noite chuvosa, de lama dos pés a
cabeça e minha avó Clarinda com pena dela deixou morando  lá em casa. Um dia
começamos a namorar e agora resolvemos casar. Em vista desta promessa dela, já
contada, estou aqui comprando esta roupa.
- Valha-me São Benedito, berrou Gregório, o alfaiate, Esta é a minha filha
fujona, a Gabriela, conhecida mais como Gabe como voismicê mesmo disse!
-Conheço também esta outra a Florisbela, viúva do meu irmão gêmeo. Agora estou
entendendo. Nunca contaram que eram irmães.
- Corra Beribório. Traga sua mãe aqui, mas antes tome o facão dela. Diga logo
que sabemos onde estão as nossas duas filhas e o homem que está aqui dizendo
tudo não é o que roubou a Flori.
Não demorou muito: entrou desembestada como uma louca a vendedora de jacas, mãe
das duas filhas sumidas no mundo e em prantos ouviu toda a história de
forasteiro. Num grande abraço, muito agradeceu as novidades e combinou que
todos viajariam juntos para a casa dele e para o seu casamento e para encontrar
as filhas que lhe matavam de saudades.
- Tem ainda um detalhadamente, falou o homem portador das boas novas. Não querem
me perguntar como e quando o meu irmão morreu?
-Sim. Tem razão. Como e quando? Arrematou a velha mãe, já sem raiva e vontade de
vingança, pois o ladrão de sua filha já tinha batido as botas.
- Meu irmão morreu de parto!
- Vige Maria, como pode ser?  Homem não pare! Disseram em uma só voz, o pai, a
mãe e o irmão da viúva da família.
- Foi assim. Sua filha em questão engravidou e na hora do parto ela gritava
tanto que meu irmão resolveu entrar no quarto onde a aparadeira estava fazendo
de tudo para solucionar o nascimento. Ao ver aquele pequeno ser pendurado num
cordão, chorando aos berros, não agüentou de tanta emoção. Caiu pra trás e
morreu na hora.
 -Então quer dizer que temos uma neta ou um neto?
 - Uma neta, dona Jurema.
  - Então sou tio, não é?
   - Chama-se Juremar. Em homenagem a mãe da mãe e avó da menina que veio ao
 mundo na hora que o pai se despediu do mesmo. Ela já tem dois meses e é
danada. Parece que tem mais. Quando começar a andar vai correr e brincar como
uma cabritinha.
-Vamos preparar a viagem logo, antes que sua noiva, nossa filha, pense que
voismicê debandou e não volte para casar, disse angustiado o velho alfaiate.
Conta à voz do povo que nunca se viu um casamento igual ao do forasteiro que se
chama Pedro. Tinha vaqueiros de todas as partes, muita sanfona tocando e uma
arrasta-pé que durou dois dias e duas noites, com muito milho cozido, bolos de
toda qualidade, cachaça da boa, muito bode assado. O que chamou mais a atenção
era se ver uma idosa vestida de caipira sempre abraçada com a noiva vestida de
Maria Bonita e seu noivo vestido de Lampião, a irmã da casada vestida de Nossa
Senhora e uma bela e loira menininha nos braços. Foi a primeira vez que o
menino Jesus virou menina. O irmão e o pai das moças já faladas nesta história
também ficaram famosos. Um se vestiu de São José e o outro de um dos Reis
Magos.  Muitos bois, vacas, jegues e carneiros estavam também na festa. Salvo
fazer a criança de o presépio virar garota, quando deveria ser um garotinho,
tudo estava nos conformes para uma véspera e uma noite de Natal. .
O forasteiro, o boiadeiro, o alfaiate e a vendedora de jacas, com as suas duas
filhas e sua netinha, pousaram para uma fotografia, cujo quadro devidamente
emoldurado até hoje reina soberano nas velhas paredes da igrejinha do lugar,
marcando o fato histórico, quando um homem morreu de parto e Jesus virou
Jesusa. Como diz que Anjo não tem sexo, quem sou eu para duvidar do sexo do
mais importante e mais maravilhoso Anjo que já esteve na terra?

 

Josias Macedo Neto
77 anos

musica: La longe senhora
sinto-me: magicamente bem
publicado por Alzira Macedo às 11:26

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Terça-feira, 13 de Janeiro de 2009

Saudade tua...

Com ajuda de um texto que recebi sem autor, escrevi o que de ti sinto, amigo (a) Virtual

 

 

 

 

Saudade Virtual

 

Saudade...
De quem não vejo,
Só sinto...
De quem não sei quem é,
Só sei que existe,
Porque meu coração assim quer.

Saudade...
De você que me ensinou
A te conhecer, respeitar
e admirar,
Aqui dentro deste peito sonhador
Que não te quer esquecer.

Saudade...
Aperta e dói,
Quando raramente estou aqui
E não te vejo on-line,
Pra me escutar,
 me fazer sonhar
Esquecer de tudo
que me entristece
E só de você querer
Saber e lembrar..

Saudade...
De suas palavras,
Neste modo de escrever
Que é só seu
nem sei que cor tem os seus olhos,
se és magro ou gordo
 alto ou pequeno
branco ou moreno

Saudades meu amigo (a)
virtual,
Real, não sei...
Mas quero sempre
Contigo estar!
e poder contigo contar

 

Autor desconhecido & Alzira Macedo

musica: Amigo
sinto-me: Cansada (a chegar do emprego)
publicado por Alzira Macedo às 09:43

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